OBRA

CANÇÕES

LETRA

Agora falando sério

Agora falando sério

Agora falando sério
Eu queria não cantar
A cantiga bonita
Que se acredita
Que o mal espanta
Dou um chute no lirismo
Um pega no cachorro
E um tiro no sabiá
Dou um fora no violino
Faço a mala e corro
Pra não ver banda passar

Agora falando sério
Eu queria não mentir
Não queria enganar
Driblar, iludir
Tanto desencanto
E você que está me ouvindo
Quer saber o que está havendo
Com as flores do meu quintal ?
O amor-perfeito, traindo
A sempre-viva, morrendo
E a rosa, cheirando mal

Agora falando sério
Preferia não falar
Nada que distraísse
O sono difícil
Como acalanto
Eu quero fazer silêncio
Um silêncio tão doente
Do vizinho reclamar
E chamar polícia e médico
E o síndico do meu tédio
Pedindo para eu cantar

Agora falando sério
Eu queria não cantar
Falando sério

Agora falando sério
Eu queria não falar
Falando sério

Ahora hablando serio

Versión de Silvia Ulrik y Roberto Echepare

Ahora hablando serio
Yo querría no cantar
La canción bonita
Que da confianza
Que el mal espanta
Pateo el lirismo
Le doy un grito al perro
Y un tiro al sabiá1'
Arrojo el violín
Hago la maleta y corro
Para no ver la banda pasar
Ahora hablando serio
Yo querría no mentir
No querría engañar
Esquivar, eludir
Tanto desencanto
Y tú que me estás escuchando
¿Quieres saber que está ocurriendo
Con las flores de mi jardín?
El amor-perfecto2, traicionando
La siempre-viva3, muriendo
Y la rosa, oliendo mal

Ahora hablando serio
Preferiría no decir
Nada que distrajera
El sueño difícil
Como acunado
Yo quiero hacer silencio
Un silencio tan hiriente
Para el vecino reclamar
Y llamar a la policía y médico
Y al administrador de mi tedio
Solicitándome cantar

Ahora hablando serio
Yo querría no cantar
Hablando serio.

Ed ora dico sul serio

Versão de Bardotti

ed ora dico sul serio
non vorrei cantare più
la canzone da niente
che si canticchia
distrattamente
prendo a calci la poesia
prendo a pugni l'armonia
e dico soltanto: no
corro fino a che c'è strada
quando passerà la banda
la finestra chiuderò
ed ora dico sul serio
non vorrei cantare più
la canzone di ieri
tutta sorriso, scacciapensieri
tu che stai ad ascoltare
vuoi sapere cosa accade
nel giardino a casa mia?
il sempre-verde è appassito
il primo amore ha tradito
il non-ti-scordar-di-me
ed ora dico sul serio
non vorrei cantare più
io vorrei rinunciare
a fare e rifare
la ninna-nanna
io vorrei fare silenzio
un silenzio tanto fondo
che il vicino picchierà
venga il vigile il dottore
venga il prete col portiere
a pregarmi di cantare
ed ora dico sul serio
non vorrei dire di più
dico sul serio


1969 © Marola Edições Musicais
Todos os direitos reservados. Copyright Internacional Assegurado. Impresso no Brasil


Chico Buarque

ENCONTRADA NO

ÁLBUM

CURIOSIDADES

Nota sobre Agora falando sério
(Análise literária)
Desenho mágico, Adélia Bezerra de Meneses

     Letra 
"No entanto, no quarto disco - aquele em que faz uma revisão da própria poética - Chico Buarque empreende uma crítica à crença no poder de transformação social - provisório que seja - da canção.

Agora falando sério
Eu queria não cantar
A cantiga bonita
Que se acredita
Que o mal espanta

- diz ele em Agora falando sério. Daí um questionamento da própria poética e seus motivos, chegando a renegar o lirismo:

Dou um chute no lirismo
Um pega no cachorro
E um tiro no sabiá
Dou um fora no violino
Faço a mala e corro
Pra não ver a banda passar

Agora falando sério
Eu queria não mentir
Não queria enganar
Driblar, iludir
Tanto desencanto
E você que está me ouvindo
Quer saber o que está havendo
Com as flores do meu quintal?
O amor-perfeito, traindo
A sempre-viva, morrendo
E a rosa, cheirando mal

É perfeito como autocrítica: Chico reconhece o quanto as suas canções foram, no fundo, uma tentativa de "enganar/ driblar, iludir/ Tanto desencanto". E foi o desencanto que motivou, em Chico Buarque, a sua recusa do tempo - que significa uma recusa da história. Pois a volta que sempre se dá nas suas canções, o retorno a uma situação arquetípica (no escopo de recuperar o conteúdo de certas experiências) é, no fundo, uma tentativa de vencer a roda-vida, metáfora do tempo.

"Agora falando sério/ Eu queria não cantar" - diz ele, confessando a crise. Uma crise na qual - como um instante em que tudo é posto em xeque - o risco é o do silêncio absoluto."

Fonte: Desenho mágico, Adélia Bezerra de Meneses, Editora Hucitec, 1982
Parte I - Lirismo Nostágico, página 64

Chico Buarque

Chico

Em 58 anos de carreira, compôs centenas de canções, aqui apresentadas por título, data, compostas em parcerias, versões e adaptações, compostas para teatro, cinema e aquelas que só aparecem em discos de outros intérpretes. Suas músicas foram gravadas em cerca de 40 álbuns, organizados por data, projetos, discos solo, gravações ao vivo, coletâneas e discos de outros intérpretes dedicados a ele. A obra completa do artista é uma das maiores riquezas que a cultura brasileira produziu até hoje.

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