SANATÓRIO
GERAL

"...Ai, que vida boa, olerê , Ai, que vida boa, olará , o estandarte do sanatório..."

Sanatório Geral

O Palíndromo
do Chico

Quando Chico era nosso homem na Itália toda semana a gente publicava matéria dele. Era um correspondente aplicado. Me lembro de umas fotos que mandou, posando ao lado de nosso ancestral, o temível Pasquino.

Agora... Liguei para ele pedindo para escrever alguma coisa para o primeiro número do Pasquim paulista. "Minha agenda estourou. Tô enlouquecido, ensaiando o show com Bethânia para o dia 2 em Paris." "Pô, Chico, tremenda sacanagem nos deixar na mão!" "Fazer matéria nem pensar, mas se vocês quiserem um palíndromo..." Palíndromo, como talvez só o Houaiss saiba, é uma frase que significa literalmente o mesmo, seja lida de cá pra lá, como de lá pra cá, da direita para a esquerda. "Levei 5 horas fazendo", disse Chico. "Insônia." Era pegar ou largar. Peguei. E, outra vez por acaso, eis o Pasquim inovando ao publicar o primeiro palíndromo ilustrado. Por outro Chico. (Jaguar)

Pasquim São Paulo Ano XVIII número
13 a 10 de julho de 1986

"Até  reagan sibarita tira bisnaga ereta"

MEU IRMÃO

ALEMÃO

 Chico Buarque volta ao samba e rememora 30 anos de carreira

Chico Buarque volta ao samba e rememora 30 anos de carreira. Ele fala de música e literatura, diz que tentou conhecer o irmão alemão e afirma que está "mais leve"

Chico Buarque de Hollanda está de volta, em CD, videoclip e show. Depois de cinco anos sem gravar - o que não quer dizer sem produzir - e de ter se aventurado pelas águas da literatura, com "Estorvo", um romance de qualidade surpreendente, Chico retorna ao samba com o disco "Paratodos". A volta tem um sabor de reencontro do músico com o seu público e assinala um momento de maturidade de um artista que sempre soube conciliar tradição e inovação, erudição e cultura popular, trabalho cerebral e intuição. Nesta entrevista, realizada em duas etapas, na casa do compositor, no Rio, ele fala sobre sua formação literária, sobre suas ligações com a música e sobre sua família. Filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda, autor do clássico "Raízes do Brasil", Chico comenta a relação com o pai e revela a existência de um irmão alemão, por ele desconhecido. Dizendo-se um "homem cordial" (conceito cunhado por seu pai), Chico também fala sobre seus amigos, seus parceiros e, apesar da timidez, não evitou temas delicados, como vícios e manias. Quase um cinquentão, Chico comemora 30 anos de carreira em plena forma e diz que hoje se sente mais leve do que na época das cobranças políticas.

Ludopédio

Durante seu exílio na Itália, entre 1969 e 1970,
Chico criou um jogo inspirado no futebol e batizou a brincadeira de Ludopédio. Mais tarde, o jogo foi lançado pela Grow, no mercado brasileiro, com o nome de Escrete. Chico assinou a apresentação do seu brinquedo:

JULINHO

da Adelaide

SANATÓRIO GERAL

Julinho da Adelaide nasceu quando Chico Buarque passou a ser muito conhecido entre os censores do regime militar, na década de 70. Suas músicas eram proibidas somente porque levavam sua assinatura. A saída para burlar a censura foi a criação de um heterônimo. E deu certo. Acorda amor, Jorge maravilha e Milagre brasileiro passaram pela censura sem maiores problemas. Julinho chegou até a dar uma entrevista para o jornal Última Hora sobre sua carreira em ascensão. O jornalista e escritor Mário Prata, que o entrevistou em 1974, relembra esse episódio no artigo abaixo. A entrevista publicada contém apenas parte do que você pode ler na transcrição integral da fita que a originou.

ENTREVISTA
COM O EX-CENSOR

Carlos Lúcio Menezes



A idéia desta entrevista surgiu quando eu falava com um amigo sobre este site. Ele me disse que seu pai havia sido censor. Mesmo sem saber se ele tivera ou não alguma relação com as tesouradas na obra de Chico, pensei em entrevistá-lo. Surgiam dois problemas: um, se o Chico toparia. Ele topou. O outro, mais difícil no entender do meu parceiro Miltão, da CPC, era se Lúcio, o próprio censor toparia. Ele também topou e a entrevista foi feita no dia 2 de novembro de 1998, por telefone.

Carlos Lúcio Menezes, 69 anos, aposentou-se como censor em 1981. Casado, dois filhos, cinco netos, formou-se em Jornalismo, Relações Públicas e Pedagogia. Fez curso de extensão universitária em Cinema, na Universidade Católica de Minas Gerais e iniciou, mas não concluiu, o curso de Direito. Trabalhou na Assessoria de Imprensa dos presidentes da República Médici e Geisel.

Depois de ser entrevistado, Lúcio deu o seguinte depoimento:

"Esse trabalho que vocês estão fazendo é muito importante para que nossos filhos e também nossos netos, no futuro, possam conhecer a obra de um artista brilhante, de garra, e com muita personalidade."

ALGUNS DEPOIMENTOS

INÉDITOS

Conheça o que este time de personalidades da cultura brasileira falou sobre Chico Buarque...

"Chico Buarque é uma grande consciência inserida em um enorme talento." 

 Chico de Hollanda, de aqui e de de alhures "Parceiro de euforias e desventuras, amigo de todos os segundos, generosidade sistemática, silêncios eloqüentes, palavras cirúrgicas, humor afiado, serenas firmezas, traquinas, as notas na polpa dos dedos, o verbo vadiando na ponta da língua - tudo à flor do coração, em carne viva... Cavalo de sambistas, alquimistas, menestréis, mundanas, olhos roucos, suspiros nômades, a alma à deriva, Chico Buarque não existe, é uma ficção - saibam.

Inventado porque necessário, vital, sem o qual o Brasil seria mais pobre, estaria mais vazio, sem semana, sem tijolo, sem desenho, sem construção."

"Compositor, dramaturgo, escritor, poeta e laureado por todos estes dons, escreve a mais importante obra da dramaturgia brasileira que é Gota d'água, com os mais impressionantes diálogos da realidade brasileira. Situa solilóquios que são verdadeiras jóias para a representação de um ator. Sem contar as músicas e letras que expressam e contam de forma absurdamente concreta a história de Gota d'água. Chico Buarque, além de tudo é um homem belo e bom."

"Algumas coisas me chamaram a atenção no trabalho com o Chico:

- a facilidade e rapidez com que ele topou fazer o filme (Ed Mort), só tendo visto um curta meu, se dispondo a trabalhar num filme de pobre e ainda por cima, cedendo uma música;
- a emoção das mulheres da produtora, secretárias, telefonistas, todas, enfim, quando ele ligou e o tempo que levou para a "poeira" baixar depois do telefonema;
- a leveza do andar, o pisar macio no set, coisa de profissional. Indo e vindo da locação ao trailler, do trailler para a locação, só quando necessário à filmagem. Certamente, herança de Quando o carnaval chegar.
- a sensação desagradável de não ter podido parar, nem por uns minutos, para conversar, pelo delírio absoluto de fazer um filme maior que as pernas, 18 horas por dia;

Por fim, um ano e meio depois, num lançamento de livro, não consigo me aproximar. O Chico, cercado de fãs e jornalistas, consegue me ver e, por sobre as cabeças, pergunta: "Como está o nosso filme?" Não deu tempo de explicar, mas espero ter correspondido a confiança depositada." 

"É um dos casos onde o roteiro é melhor que o filme. A adaptação feita por Chico, da obra de Vinícius, para o filme Para viver um grande amor, é ótima. A trilha é maravilhosa, uma história baseada na pobre menina rica. O Chico soube fazer isto muito bem." 

Sobre a trilha e o roteiro (de Chico Buarque) do filme
Para viver um grande amor, de Miguel Faria Jr
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"O Chico é um príncipe da Música Popular Brasileira e é mais do que um privilégio, é uma honra, poder trabalhar com ele. As trilhas musicais dos três filmes que eu produzi e que tiveram a contribuição dele, Bye bye Brasil, Quando o carnaval chegar e Joana francesa tiverem um resultado excepcional. São músicas que ficaram para sempre. Trabalhar com o Chico é muito fácil e gratificante porque ele compreende muito rapidamente as propostas apresentadas. É um homem muito inteligente e realiza maravilhosamente bem o que lhe é solicitado. Eu só posso é agradecer ao Chico de ter sempre aceito os meus pedidos e me sentir honrado com isto."

CHICO BUARQUE

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