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LETRA

Vai passar

Vai passar

Vai passar
Nessa avenida um samba
popular
Cada paralelepípedo
Da velha cidade
Essa noite vai
Se arrepiar
Ao lembrar
Que aqui passaram
sambas imortais
Que aqui sangraram pelos
nossos pés
Que aqui sambaram
nossos ancestrais

Num tempo
Página infeliz da nossa
história
Passagem desbotada na
memória
Das nossas novas
gerações
Dormia
A nossa pátria mãe tão
distraída
Sem perceber que era
subtraída
Em tenebrosas
transações

Seus filhos
Erravam cegos pelo
continente
Levavam pedras feito
penitentes
Erguendo estranhas
catedrais
E um dia, afinal
Tinham direito a uma
alegria fugaz
Uma ofegante epidemia
Que se chamava carnaval
O carnaval, o carnaval
(Vai passar)

Palmas pra ala dos
barões famintos
O bloco dos napoleões
retintos
E os pigmeus do bulevar
Meu Deus, vem olhar
Vem ver de perto uma
cidade a cantar
A evolução da liberdade
Até o dia clarear

Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório
geral vai passar
Ai, que vida boa, olerê
Ai, que vida boa, olará
O estandarte do sanatório
geral
Vai passar

Va a pasar

Versión de Silvia Ulrik y Roberto Echepare
 
Va a pasar
Por la avenida un samba popular
Cada adoquín
De la vieja ciudad
Esta noche
Va a erizarse
Al recordar
Que aquí pasaron sambas inmortales
Que aquí sangraron nuestros pies
Que aquí bailaron nuestros ancestros
En una época
Página infeliz de nuestra historia
Pálido paisaje en la memoria
De nuestras nuevas generaciones
Dormía
Nuestra madre patria tan distraída
Sin percibir que era sustraída
En tenebrosas transacciones
Sus hijos
Erraban ciegos por el continente
Llevaban piedras como penitentes
Irguiendo extrañas catedrales
Y un día, al final
Tenían derecho a una alegría fugaz
Una asfixiante epidemia
Que se llamaba carnaval
El carnaval, el carnaval
(Va a pasar).
Palmas para el ala de los barones hambrientos
El grupo de los napoleones retintos
Y los pigmeos del bulevar
Dios mío, ven a mirar
Ven a ver de cerca a una ciudad cantar
La evolución de la libertad
Hasta el día clarear
Ay!, qué vida buena, oleré
Ay!, que vida buena, olará
El estandarte del hospicio general
Va a pasar


1984 © - Marola Edições Musicais Ltda.
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Francis Hime/Chico Buarque

ENCONTRADA NO

ÁLBUM

CURIOSIDADES

Notas sobre Vai passar
Por Humberto Werneck

     Letra   
No mais resguardado isolamento, Chico trabalha num cômodo espaçoso de sua casa, misto de biblioteca, escritório e sala de estar, que chama de estúdio. Se a composicão é só sua, em geral letra e melodia nascem juntas - às vezes, em "enxurradas", como ele diz. "Quando começa, desembesta." Na esteira de Deus lhe pague veio Construção, Brejo da cruz desencalhou Suburbano coração, encalacrada havia muitos anos. Como não escreve música com suficiente desembaraço, Chico usa um pequeno gravador para fazer seus rascunhos sonoros, em fitas que vai guardando.

Um desses cassetes, pelo menos, contém uma preciosidade: o registro do momento exato em que surgiu o samba Vai passar, em 1983. Chico trabalhava no samba-enredo Dr. Getúlio, feito em parceria com Edu Lobo para o musical de mesmo nome. Letra e música estavam prontas, faltando apenas acertar o refrão. De repente, em meio aos compassos de Dr. Getúlio, começou a insinuar-se um outro samba; Chico se pôs a persegui-lo, ora com o violão, ora apenas com a voz, resvalando aqui e ali de volta ao refrão do musical - até finalmente encontrar:

Ai que vida boa, olerê
Ai que vida boa, olará

Não foi além disso naquele dia. Uma segunda fita, gravada algum tempo depois, documenta o que Chico considera o auge de sua "ilusão coletivista": a tentativa de fazer daquele esboço um samba de vários parceiros. Para isso reuniu em casa um grupo de compositores - Edu Lobo, Fagner, Francis Hime, João Bosco, Carlinhos Vergueiro, João Nogueira -, depois de um jogo do Politheama. Bem que tentaram, mas não deu certo: daquele berreiro não saiu um verso que prestasse. Nem tudo, porém foi esforço perdido: Francis, ao piano, conseguiu dar um jeito na melodia, cujo tom subia, subia e não voltava mais. Mas ainda não foi dessa vez que Vai passar ficou pronta. Posta de lado, Chico só a resgatou no ano seguinte, ao reunir material para um novo LP. Mostrou então aquele samba ao produtor Homero Ferreira, seu ex-cunhado, e ao arranjador Cristóvão Bastos, que ficaram entusiasmados. Ali mesmo, no estúdio, a letra foi terminada.

© Copyright Humberto Werneck in Chico Buarque Letra e Música, Cia da Letras, 1989

Chico Buarque

Chico

Em 58 anos de carreira, compôs centenas de canções, aqui apresentadas por título, data, compostas em parcerias, versões e adaptações, compostas para teatro, cinema e aquelas que só aparecem em discos de outros intérpretes. Suas músicas foram gravadas em cerca de 40 álbuns, organizados por data, projetos, discos solo, gravações ao vivo, coletâneas e discos de outros intérpretes dedicados a ele. A obra completa do artista é uma das maiores riquezas que a cultura brasileira produziu até hoje.

CHICO BUARQUE

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