Matéria na Folha de São Paulo - 31/10/98
Ilustrada tem acesso à nova obra do cantor e compositor sete dias antes do lançamento oficial; o álbum já está à venda em algumas lojas de SP; conheça o conteúdo do trabalho, o primeiro de canções inéditas em 5 anos
Embora As cidades, o novo álbum de Chico Buarque, só vá ser lançado oficialmente na próxima quarta-feira, a indústria, imersa em fase de crise, se antecipa e já começa a despejá-lo em algumas lojas de São Paulo. A Folha adquiriu, por R$ 20, um exemplar com sete dias de antecedência.
As cidades é o primeiro disco de faixas predominantemente inéditas que o cantor e compositor carioca produz desde Paratodos, de 1993.
Desde então, ele havia lançado Uma palavra (95), só de regravações, e o mini-CD "Terra" (97), encartado no livro homônimo do fotógrafo Sebastião Salgado.
Participara também de "Chico Buarque da Mangueira", CD coletivo produzido a propósito da homenagem da escola de samba carioca ao artista, tema de seu enredo no Carnaval deste ano, e compusera o tema-título do filme "A ostra e o vento", de Walter Lima Jr.
Produzido por L.C. Ramos e Vinicius França, "As cidades" repesca, desse período, as faixas "Chão de esmeraldas" (em parceria com Hermínio Bello de Carvalho, que abria "Chico Buarque de Mangueira"), Assentamento (vinda de "Terra") e A ostra e o vento.
Seis das 11 canções são compostas só por Chico. Entre as outras, há parcerias com Dominguinhos (Xote de navegação), Guinga ("Você, você - Uma Canção Edipiana") e L.C. Ramos (Cecília).
A melancolia no modo de cantar e a abundância de lamentos de amor caracterizam a maior fatia de "As cidades". Em Sonhos sonhos são, por exemplo, Chico canta: "Sei que é sonho (...)/ Porque na verdade não me queres mais/ Aliás, nunca na vida foste minha".
Na mesma fibra vai Injuriado: "Dinheiro não lhe emprestei/ Favores nunca lhe fiz/ Não alimentei seu gênio ruim/ Você nada está me devendo/ Por isso, meu bem, não entendo/ Por que anda agora falando de mim".
Em "Cecília": "Quantos artistas/ Entoam baladas/ Para suas amadas/ Com grandes orquestras/ Como os invejo/ Como os admiro/ Eu, que te vejo/ E nem quase respiro".